Como cuidar das “Dores da Alma.”

Como cuidar das “Dores da Alma.”

[1][1] Wilza Vieira Villela. Médica Psiquiatra, Centro de Tratamento Bezerra de Menezes e atendimentos on-line.

Sobre o diagnóstico em Psiquiatria;[i]

A psiquiatria e uma especialidade médica voltada para o diagnóstico e tratamento das “dores da alma”. Situações de sofrimento emocional ou mental que se expressam como alterações no corpo, nos sentimentos e nos pensamentos.

Diferente de outras especialidades médicas, o diagnóstico em psiquiatria não se apoia em exames laboratoriais ou de imagem. A avaliação é clínica, ou seja, se baseia no relato do sujeito e na análise do profissional sobre este relato. Outro ponto a ser considerado é que diferentes expressões de sofrimento em geral coexistem, já que uma perturbação emocional em geral acaba por afetar também o humor, os afetos, o pensamento e os comportamentos. Assim, as expressões de sofrimento não são excludentes, ao contrário. Na prática, um diagnóstico que aponta uma alteração de humor por exemplo, não significa que õ sujeito não vivencie também alterações de pensamento ou do comportamento. De fato, na maioria das vezes uma alteração em qualquer esfera do psiquismo repercute nas demais, com maior ou menor intensidade.

 Outro aspecto a ser levado em conta é o fato de que as alterações emocionais envolvidas nas situações de sofrimento psíquico ocorrem em sujeitos singulares. Características de temperamento, personalidade e padrões de reação frente a vicissitudes da vida permeiam os sintomas, de forma mais exacerbada ou atenuada. .

Assim, a construção de um diagnóstico em psiquiatria, exige uma relação de diálogo e confiança entre aquele que está sofrendo e o profissional escolhido para prestar ajuda. E importante que as características de funcionamento psíquico do sujeito possam ser evidenciadas, de modo a facilitar a identificação das dinâmicas afetivas que estão afetadas, causando dor ou desordem emocional ao sujeito.

Construir um diagnóstico orienta o profissional na elaboração de uma proposta de tratamento. Da mesma forma, auxilia aquele que sofre a compreender e enfrentar melhor seus sintomas, implicando-se na sua superação. Para tanto, é necessária cautela: o diagnóstico não deve se transforme numa estratégia de alienação do sujeito em relação a sua responsabilidade na paprodução do sintoma. Muitas vezes, ao receber um nome – o diagnóstico, aquele sofrimento passa a ser entendido como algo alheio ao sujeito e as suas formas de se situar no mundo. Como se a “dor da alma”, ao ser enquadrada numa categoria médica, deixasse de fazer parte da experiência do sujeito para se tornar algo como uma gripe ou uma infecção, que ocorre em função de agentes externos e se resolve por uma ação – uso de fármacos ou outras procedimentos, Também externas ao sujeito.

O diagnóstico em Psiquiatria é um desafio. Tanto para o profissional, que deve ouvir o sofrimento sem julgamentos e sem rotula-lo de forma simplista, como para o sujeito que sofre, para quem a nominação deve ser entendida apenas como a tradução, no jargão médico daquele dor que lhe afeta e que só ocorre pelo fato de existir no mundo, com a sua complexidade, provocações, incertezas, alegrias e sucessos.  


[i][i] Wilza Vieira Villela. Médica Psiquiatra, Centro de Tratamento Bezerra de Menezes e atendimentos on line